A Alemanha tem um problema com games. Sério problema.
Uma associação de zelosos cidadãos, a "Aktionsbündnis Amoklauf Winnenden" (algo como Aliança da Ação), decidiu convocar a população para cumprir o dever cívico de jogar no lixo o que eles chamam de "jogos assassinos". Sábado, 19 de outubro, foi o dia escolhido. Para incentivar os cidadãos, um agasalho assinado pela seleção alemã de futebol seria sorteado entre os participantes.
Alguns membros da Aliança eram pais das 16 crianças assassinadas na província de Winnenden, por um jovem de 17 anos que jogava Counter Strike.
O símbolo da campanha foi uma versão modificada do usado na campanha de destruição dos símbolos do nazismo, que começou logo após a derrota nazista.
A justificativa da Aliança é que jogos violentos instigam comportamento violento.
A dor desses pais, sem dúvida, é real. E a perda de vidas inocentes sempre representa uma tragédia.
O problema é jogar a culpa sobre os jogos eletrônicos. Diversos estudos mostram que apenas pessoas perturbadas mentalmente são influenciáveis pelos jogos. E essa influência tem o mesmo peso que a oferecida por filmes e programas de televisão.
Muito questionável também é o ato de destruir os jogos, ação proposta pela Aliança. Destruir conteúdo cultural era prática corrente na Alemanha Nazista, que orgulhosamente queimava livros considerados impróprios.
Talvez por isso mesmo seja inadimissível modificar o logotipo da campanha de destruição do legado racista e genocida do nazismo para a campanha de destruição dos jogos.
A Aliança até conseguiu encenar o descarte de alguns jogos, mas tudo não passou de armação.
A sociedade alemã respondeu à proposta da Aliança ignorando-a quase que completamente. Apenas 3 jogos foram jogados fora. Mas atos como esse só inflamam ainda mais políticos reacionários que usam os games como bode expiatório. E não é só na Alemanha, no Brasil, nos EUA e em muitos outros países também.
Há quase duas décadas existe a classificação etária dos jogos. Em vez de proibir, o governo deveria informar a população de que certos jogos não são adequados a determinada faixa etária. E fiscalizar as lojas que, sem o consentimento dos pais, vendem jogos inadequados para crianças.
Acabar com os jogos violentos e torcer para que as crianças entendam magicamente o conceito de certo e errado não é a resposta. Censurar uma forma de expressão também não é a resposta. Enfrentar o problema, que vai da vasta oferta de armas para jovens e passa pela falta de comunicação com os pais, deveria ser a prioridade.
Existe sim um problema com a sociedade atual. Psicopatas aparecem o tempo todo. Mas o principal problema é que as instituições falham em identificar e ajudar essas pessoas, para prevenir as tragédias.
Queimar livros, prender artistas, destruir games e censurar a imprensa não acaba com o problema. Enfrentamento consciente, com ampla discussão pela sociedade é um bom começo para lidar com o problema.